"Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Poesia de Amanhã

O amanhã está tão cheio...

De poesias não acabadas
De paisagens ainda não admiradas
Músicas pra serem escritas
Cartas pra serem enviadas

O amanhã está tão cheio...

De cheiros, cores, testes
De sabores para experimentar
De histórias a serem recontadas
De jardins para plantar

Amanhã vou usar aquela boina
E vou deixar minha barba crescer
Amanhã não passo naquela vitrine
Sem comprar aquele doce que não deixo ver

Amanhã vou para Índia,
Vou ser monge durante um ano
Amanhã vou ser poeta marginal
Cantor de rua, vendedor de flores

Ah! Quem me dera que amanhã
Eu esquecesse que aprendi que falhar não é belo
Eu esquecesse as lições de que importante
É sempre o importante para os outros

Mas o amanhã é como um velho armário
Na despensa, no porão, no quartinho esquecido
Nele despenso inutilezas
Nele estoco riquezas
Para um tempo que não chega nunca

Nele envelhecem sonhos
Belezas e bobagens
E tanto do que eu mais desejo
Do que eu mais aprecio, e todas as paisagens
De um pensamento não vivido

Amanhã tem poesia
Só poesia, eu juro,
Amanhã será o dia
Da poesia de amanhã

Ítalo
Bologna, Maio 2015